por Andrea Ramal
Vamos assumir? Os anos passaram e não até
agora conseguimos formar jovens para modalidades esportivas bem acessíveis à educação
pública, mesmo sediando uma edição histórica dos Jogos Olímpicos em nosso país.
Há modalidades em que é possível desenvolver
talentos sem necessidade de um investimento inicial alto. Vejamos o atletismo,
por exemplo: corrida, revezamento e corrida com obstáculos são praticados, não
raro, por atletas com parcos recursos financeiros, cujo potencial foi
descoberto na infância.
Temos menos representantes nos Jogos do Rio
do que poderíamos ter. Nossos campeões olímpicos ainda são exceções, atletas
notáveis que, infelizmente, confirmam a regra. As razões estão na educação
pública – como acontece em muitos dos casos de desperdício de talentos da
infância e juventude brasileiras.
O Censo Escolar 2015 mostrou que seis de cada
dez escolas públicas do país não possuem quadra esportiva. Significa que a
educação física, componente curricular obrigatório, não só não pode ser
implementado totalmente, como muitas vezes deve recorrer até a improvisos.
Quando comecei a lecionar, um fato me chamava
a atenção. No Conselho de Classe – esfera de avaliação dos estudantes, para
encontrar novas estratégias didáticas – as aulas não eram suspensas. Quem
ficava com os estudantes naquele momento era o professor de educação física –
que, curiosamente, não participava dessa reunião.
Naquela época, não se compreendia que este
professor tinha contribuições valiosas para o Conselho de Classe: dados
relacionados a comportamento, posturas, relacionamento e atitudes dos
estudantes que podiam não ser perceptíveis numa situação de ensino
"formal", na sala de aula.
Quase três décadas depois, a situação mudou
bastante. Os docentes de educação física foram conquistando uma formação mais
abrangente e um espaço mais reconhecido nas práticas escolares. Porém, ainda
precisamos avançar. Sem sequer um espaço apropriado para a atividade esportiva,
muitos professores precisam dar aulas na sala. O que acontece nesses colégios?
Explicações sobre regras? Trabalhos teóricos sobre o aforisma “mente sã em
corpo são”? Parece complicado.
A consequência aparece, no mínimo, a cada
quatro anos, nos Jogos Olímpicos. Apesar da habilidade e talento de tantas
crianças e jovens, revelados até em situações da cultura popular, como danças e
brincadeiras de rua, não temos ainda um sistema estruturado para trazer a atividade
esportiva à formação global.
Quando o ensino público incorporar de fato a
educação para o esporte, o que ganharemos não serão só medalhas, mas algo ainda
mais valioso: uma geração de jovens mais preparados, com menos risco de entrar
nas drogas e na contravenção. Vidas com maior possibilidade de equilíbrio,
qualidade e bem-estar, com posturas típicas de quem vive os esportes, como a
auto-superação e a disciplina. E, claro, a oportunidade de revelar novos
ídolos, bons exemplos que sirvam de inspiração para nossas crianças e jovens.
Fonte: Blog Andrea Ramal
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