Além dos estados com presídios identificados
pelos setores de Inteligência como barris de pólvora prestes a explodir, pelo
menos outras cinco unidades da federação — Acre, Ceará, Paraíba, Rio Grande do
Norte e Santa Catarina — registram disputas pelo controle de cadeias e do
tráfico de drogas entre o PCC e grupos criminosos locais aliados ao CV
Antonio Werneck e Tiago Dantas
O Globo
RIO E SÃO PAULO — Apesar de o ministro da
Justiça, Alexandre de Moraes, garantir que a situação nas prisões do país está
sob controle, há possibilidade de conflitos violentos envolvendo facções do
crime, como as ocorridas no Amazonas e em Roraima, contaminarem outros estados.
Setores dos serviços de Inteligência do próprio governo federal classificou
ontem como tensa a rotina nos presídios em cinco estados brasileiros nas
regiões Centro-Oeste, Norte e Nordeste do país. São eles: Mato Grosso, Sergipe,
Rondônia, Piauí e Ceará.
A classificação da segurança dos presídios
segue um protocolo com quatro gradações: normal (OK), alerta, tenso e conflito
deflagrado. Penitenciárias no Amazonas e em Roraima foram classificadas como
conflitos deflagrados.
Após matanças em Manaus e Boa Vista, presídios
do Norte entraram em alerta máximo para evitar que a onda de violência se
espalhe. A Secretaria de Cidadania e Justiça de Tocantins diz não poder
informar se recebeu informes dos estados vizinhos, por se tratar de dado “confidencial”,
mas reforçou a segurança nos maiores estabelecimentos com servidores e está
fazendo revistas contínuas nos 41 presídios tocantinenses.
O Departamento Penitenciário Nacional (Depen) —
que monitora a situação dos presídios, coordena políticas nacionais de inserção
dos presos, acompanha e controla a aplicação da Lei de Execução Penal —
reconhece a existência de 26 facções de criminosos no país. Elas ocupam,
separadamente, celas nos quatro presídios federais administrados pela União. Um
relatório entregue ao Ministério da Justiça sustenta que o número é muito
maior: as cadeias brasileiras abrigariam cerca de 80 grupos criminosos, quase
todos dividindo sociedade com o Comando Vermelho (CV), do Rio, e o Primeiro
Comando da Capital (PCC), de São Paulo, únicas facções brasileiras com atuação
nacional.
INFOGRÁFICO: Mapa das facções nos presídios
brasileiros
Em outubro do ano passado, conflitos nos
presídios da Região Norte deixaram dez mortos em Boa Vista, oito em Porto Velho
e pelo menos cinco presos feridos em Rio Branco. Segundo os setores de
Inteligência do governo federal, a situação está, até agora, sob controle nas
cadeias do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Além dos estados com presídios identificados
pelos setores de Inteligência como barris de pólvora prestes a explodir, pelo
menos outras cinco unidades da federação — Acre, Ceará, Paraíba, Rio Grande do
Norte e Santa Catarina — registram disputas pelo controle de cadeias e do
tráfico de drogas entre o PCC e grupos criminosos locais aliados ao CV. Nos
últimos anos, a disputa provocou mortes e motins dentro de penitenciárias. Na
tentativa de tentar prevenir massacres como os ocorridos no Amazonas e em
Roraima, alguns governos decidiram dividir os presos dentro do sistema
penitenciário de acordo com as facções que integram.
O levantamento que apontou Acre, Ceará,
Paraíba, Rio Grande do Norte e Santa Catarina como estados sob risco foi feito
pelo GLOBO com base em investigações feitas por Ministérios Públicos locais e
relatos de agentes penitenciários.
No Rio Grande do Norte, as autoridades estão em
alerta porque a facção Sindicato do Crime (SDC) ou Sindicato RN, é comandada
por Gelson Lima Carnaúba, o G, também líder da Família do Norte (FDN), do
Amazonas. O SDC surgiu há dois anos como forma de se opor ao crescimento do PCC
no estado. Em agosto do ano passado, a facção foi responsável por ataques em 38
cidades. Ao menos três detentos foram mortos nas cadeias. Ao longo de 2016,
foram registrados cerca de 30 suicídios de detentos. Segundo o Ministério Público,
porém, esses presos foram mortos.
— Depois que o Sindicato RN desestabilizou o
sistema penitenciário começou a briga por espaço com o PCC. O governo decidiu
separar os presos — disse Vilma Batista, presidente do Sindicato dos Agentes
Penitenciários do RN.
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