Reunidos na cidade de Zé Doca (MA), na
quinta-feira da semana passada (19), os bispos do Regional Nordeste 5 da CNBB,
no Maranhão, divulgaram nota sobre a situação das prisões no Brasil.
Chamam atenção, ainda, para a violência no
campo – com a expansão do agronegócio, sobretudo no Cerrado maranhense -; para
a falta de perspectiva de estudo e trabalho a pelo menos 500 mil jovens em
nosso estado; e para a incapacidade dos atuais governos de elevar o IDH.
Confira a íntegra da mensagem.
Nota dos Bispos do Maranhão
AOS CRISTÃOS E AOS CIDADÃOS DO MARANHÃO
“Quanto a nós, não podemos nos calar sobre o
que vimos e ouvimos” (At 4, 20).
Nós, bispos do Maranhão, reunidos em Zé Doca,
de 16 a 19 de janeiro de 2017, sob a luz do Espírito Santo, queremos manifestar
algumas preocupações referentes ao momento atual.
Ouvimos com apreensão os relatos sobre o que
está acontecendo nas prisões do país. São sobretudo os jovens que mais sofrem
com essa situação. São eles que, em grande parte, superlotam as penitenciárias,
sendo que muitos deles nem sequer foram julgados ou sentenciados. O sistema
judiciário apresenta-se como funcional ao modelo econômico vigente,
contribuindo para um genocídio não declarado.
Neste ano dedicado à juventude, inquietam-nos
as consequências que este modelo econômico traz para os jovens do nosso Estado.
Quase 500 mil jovens, com idades entre 15 e 29 anos, nem estudam, nem
trabalham, nem têm esperança de estudar ou trabalhar e, por isso, nem vão mais
à procura de oportunidades. Garantir às novas gerações o direito à educação de
qualidade, ao trabalho, ao lazer e à inserção na vida profissional é papel do
Estado democrático e este é, certamente, o modo mais eficaz de prevenir a violência
crescente.
Constatamos com pesar a expansão do
agronegócio, bem visível no programa federal conhecido como MATOPIBA.
Apresentado pela mídia como solução mágica para a agricultura do nosso Estado,
este programa visa ocupar o que resta de Cerrado do Maranhão, Tocantins, Piauí
e Bahia. Tal tipo de expansão do agronegócio destrói modos de vida originários,
não visa o bem viver da população, expulsa e exclui milhares de pessoas que
viviam da sua produção no campo. O modelo, que se baseia na monocultura da soja,
do eucalipto, da cana-de-açúcar e outras culturas, pode até aumentar o Produto
Interno Bruto-PIB do Estado. Não contribui, porém, para o crescimento do Índice
de Desenvolvimento Humano-IDH, além de ferir de morte o bioma Cerrado. A
Campanha da Fraternidade deste ano nos convida a uma reflexão mais aprofundada
sobre este assunto.
Os povos tradicionais – indígenas, quilombolas
e afrodescendentes, lavradores e pescadores – têm sido as principais vítimas
deste modelo agroexportador. Conforme consta no relatório da Comissão Pastoral
da Terra-CPT, em 2016, foram assassinadas 11 lideranças, incluindo indígenas.
Ocorreram mais de 300 conflitos agrários, com 139 pessoas ameaçadas, envolvendo
30.691 famílias. O inchamento das cidades, onde há poucas perspectivas de vida
para as famílias pobres, é também um dos resultados da violenta agressão aos
povos da terra.
Como cristãos, não podemos ficar indiferentes
ao que acontece em nossa sociedade. A Igreja não existe para si mesma, mas para
o serviço do Reino de Deus e sua Justiça, a fim de que haja pão em todas as
mesas e vida em abundância para todos (Jo 10, 10).
Por isso, conclamamos a todos os poderes
estabelecidos, também aos novos governos municipais, a unirem-se no esforço de
solucionar estes problemas apresentados. As lideranças e cidadãos se envolvam e
exijam o funcionamento dos órgãos de controle social e de políticas públicas
inclusivas. Pois somente com a participação de todo o povo, o Maranhão que
desejamos – mais justo, solidário e pacifico – será possível.
Que o Espírito do Cristo libertador fortaleça
nossa esperança na realização desse sonho.
Zé Doca, 19 de janeiro de 2017.
Armando Martín Gutiérrez, bispo de Bacabal
Elio Rama, bispo de Pinheiro
Enemésio Ângelo Lazzaris, bispo de Balsas
Esmeraldo Barreto de Farias, bispo auxiliar de
São Luís
Franco Cuter, bispo emérito de Grajaú
Francisco Lima Soares, administrador diocesano
de Imperatriz
José Belisário da Silva, arcebispo de São Luís
José Soares Filho, bispo de Carolina
José Valdeci Santos Mendes, bispo de Brejo
João Kot, bispo de Zé Doca
Sebastião Bandeira Coêlho, bispo de Coroatá
Sebastião Lima Duarte, bispo de Viana
Vilsom Basso, bispo de Caxias
Xavier Gilles de Maupeou d’Ableiges, bispo
emérito de Viana
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