Brasil e Estados Unidos retomaram secretamente
as negociações de um acordo sobre o uso de uma base militar brasileira no
Maranhão para o lançamento de foguetes norte-americanos. Encerradas em 2003,
início do governo Lula, as conversas voltaram por iniciativa do ministro das
Relações Exteriores, José Serra, interessado em uma relação mais carnal entre
os dois países.
O embaixador do Brasil em Washington, Sérgio
Amaral, conversou sobre o assunto com o subsecretário de Assuntos Políticos do
Departamento de Estado norte-americano, Thomas Shannon, ex-embaixador em
Brasília. Uma proposta mantida até aqui em sigilo foi elaborada e apresentada
pelo Itamaraty a autoridades dos EUA. Teria sido rejeitada, segundo
CartaCapital apurou.
A Base de Alcântara é tida como a mais bem
localizada do mundo. Dali foguetes conseguem colocar satélites em órbita mais
rapidamente, uma economia de combustível e dinheiro.
No fim do governo neoliberal de Fernando
Henrique Cardoso (1995-2002), de quem Sérgio Amaral era porta-voz, houve um
acordo entre os dois países. Foi enviado ao Congresso brasileiro, para a
necessária aprovação. Logo ao herdar a faixa do tucano em 2003, o petista Lula
enterrou o caso.
Um dos ministros a defender o arquivamento
naquela época foi o hoje colunista de CartaCapital Roberto Amaral, então na
Ciência e Tecnologia. Por seus termos, relembra ele, era um “crime de
lesa-pátria”.
Os EUA impunham várias proibições ao Brasil:
lançar foguetes próprios da base, firmar cooperação tecnológica espacial com
outras nações, apoderar-se de tecnologia norte-americana usada em Alcântara,
direcionar para o desenvolvimento de satélites nacionais dinheiro obtido com a
base. Além disso, só pessoal norte-americano teria acesso às instalações.
“O acordo contrariava os interesses nacionais e
afetava nossa soberania”, afirma Amaral. “Os EUA não queriam nosso programa
espacial, isso foi dito por eles à Ucrânia.”
Enterrada a negociação com Washington, a
Ucrânia foi a parceiro escolhido em 2003 para um acordo espacial. Herdeira da
União Soviética, tinha tecnologia para fornecer. Brasil e Ucrânia
desenvolveriam conjuntamente foguetes para lançamentos em Alcântara, com o
compromisso de transferência de tecnologia de lá para cá.
Um telegrama escrito em 2009 pelo então
embaixador dos EUA em Brasília, Clifford Sobel, e divulgado pelo WikiLeaks,
relata uma conversa tida por ele com o então representante ucraniano na cidade
e mostra a desaprovação do Tio Sam ao entendimento Ucrânia-Brasil. Os EUA não
queriam “que resultasse em transferência de tecnologia de foguetes para o
Brasil”.
O entendimento do Brasil com a Ucrânia foi
desfeito em 2015, após consolidar-se lá um governo pró-EUA.
Na proposta sigilosa de agora, o Brasil teria
oferecido a base em troca de grana e tecnologia. As proibições do acerto de
2002, chamadas “salvaguardas”, seriam flexibilizadas. Teria sido esse o motivo
da recusa norte-americana.
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