Cerca de 60
Tenetehar/Guajajara montaram um acampamento na manhã desta quarta-feira, 3, às
portas do Palácio dos Leões, sede do governo do Maranhão, na capital São Luís.
Na pauta do protesto, que segue até o final da tarde, o atraso de quatro meses
dos salários de professores e professoras indígenas e outras demandas
envolvendo a Educação Escolar Indígena Diferenciada nas aldeias de todo o
estado - levadas à Secretaria Estadual de Educação (Seduc) em dois
abaixo-assinados durante o último mês de julho. Uma comissão com dez lideranças
indígenas foi recebida por representantes do governo, ao contrário do esperado
encontro com o governador Flávio Dino.
Os encaminhamentos do
governo não atenderam os problemas enfrentados nas aldeias Tenetehar/Guajajara
das terras indígenas Pindaré e Caru, bem como nas demais terras indígenas do
Maranhão. Em assembleia no acampamento, os indígenas concluíram que as repostas
do governo não possibilitam a retomada das aulas. “Desde abril o salário de 400
professores e professoras de todas as aldeias do Maranhão não é depositado
porque a Seduc embargou as contratações. Naquele mês prometeram resolver o
problema até o fim do mês, depois em maio, depois em junho, depois em julho e
agora deram novo prazo: até o fim deste mês”, explica a liderança indígena
Flauberth Rodrigues Sousa Guajajara, da Terra Indígena Pindaré, que esteve na
reunião.
Como não há concurso público
para a contratação de professores, a Seduc do Maranhão adota as chamadas
seletivas - variáveis entre provas de títulos ou escritas. Em 2013 ocorreu a
última Seletiva. Como não há formação contínua de professores indígenas, os
povos são obrigados a buscar junto com a Seduc professores não-indígenas nas
cidades do entorno das aldeias. Os salários baixos (R$ 1.040 bruto), a falta de
pagamento do transporte e compra de materiais não fornecidos pelo governo faz
com que estes profissionais "paguem para trabalhar”, diz Flauberth
Guajajara. Com isso, a desistência de professores é alta.
“Pela falta destes
profissionais, tivemos que pedir para a Seduc arrumar novos professores; tanto
indígenas quanto não-indígenas. Procuramos dentro da Seletiva de 2013, mas não
havia mais ninguém. E com base na conclusão de que estes novos professores não
fizeram a Seletiva, os contratos foram suspensos. A Seduc não sabia disso? De
abril até agora esses professores trabalharam sem receber, mas para o início do
calendário letivo do segundo semestre não teve mais como”, afirma Flauberth
Guajajara. O que intriga os indígenas é que em 2014 e 2015 a Seduc contratou
professores que não passaram pela Seletiva de 2013 para substituir as
desistências.
A reunião da comissão de
indígenas se reuniu com os adjuntos do secretário de articulação política do
governador Flávio Dino, o comandante da segurança do Palácio dos Leões e o
integrantes da Seduc. “Pediram paciência pra gente. Como ter paciência com as
escolas paradas nas aldeias? Esses não são problemas novos, mas com meses se
arrastando nas mesas do governo do estado. Nos dão prazos vagos, sem dizer como
vão fazer, a data em que ficará pronto. Não há respostas concretas, mas novos
prazos abstratos”, ataca Flauberth Guajajara.
Os representantes do governo
do Maranhão afirmaram às lideranças indígenas que até o final deste mês uma
nova Seletiva será organizada para os 400 professores e professoras para as
escolas indígenas do estado - no total, são 433 professores e professoras
indígenas no Maranhão que atendem entre 13 e 14 mil estudantes indígenas em 285
escolas. “Os Guajajara possuem cerca de 500 alunos e cinco escolas. Temos 55
professores e professoras enfrentando essas dificuldades. Decidimos pelo
protesto de hoje porque a Educação Escolar Indígena Diferenciada no estado está
paralisada”, denuncia o Guajajara.
Mais prazos, problemas
seguem
Horas após o início do
protesto, com cartazes, faixas e cantos rituais, os Tenetehar/Guajajara foram
procurados por um representante do governador. A proposta apresentada era a
constituição de uma comissão com cinco lideranças indígenas para uma reunião
com Dino no Palácio dos Leões. Os indígenas aceitaram, mas decidiram pela
entrada de 20 lideranças. A chefia de segurança da sede do governo não aceitou
e depois de quase uma hora de negociações ficou definida a presença de dez
lideranças na comissão. Por volta das 11 horas, o grupo entrou no Palácio.
Para a primeira quinzena
deste mês, o governo do Maranhão estipulou prazos para a contratação de
merendeiras, zeladores das escolas e alegou que a Seduc adquiriu os materiais
didáticos, mas está sem veículo para leva-los às aldeias. “Muita enrolação.
Ficamos até constrangidos, mas o que fica mesmo é a revolta. os representantes
do governo falaram sobre a crise econômica, mas isso não tem nada a ver com o
fato da Seduc ser incompetente para levar materiais para as aldeias. O estado
nos subestima, talvez por isso acham que vamos cair em conversas assim”, se
indigna Flauberth Guajajara. O transporte escolar, hoje feito pelos municípios
por fora de articulação dos povos, também ganhou prazo de resolução para este
mês.
A ampliação e a construção
de novas escolas foram apresentadas num projeto específico da Seduc, envolvendo
outras secretarias do governo e uma agenda de execução mais longeva. “Tudo está
sendo comunicado ao MPF (Ministério Público Federal). O protesto de hoje vai
continuar em outros e com certeza mais povos irão aderir porque estão nessa
situação difícil. O que a gente tá decidindo é em permanecer com as escolas
paralisadas. Não retornamos porque não há professores e esperamos pela
resolução. Vamos continuar nos manifestando”, conclui Flauberth Guajajara.
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