Candidatos usavam ponto e central telefônica
para receber as respostas
Candidatos pagavam entre R$ 150 mil a R$ 180
mil por um gabarito do Exame Nacional do Ensino Médio, descobriu a Polícia
Federal na operação Embuste, realizada em Minas Gerais, Bahia e Ceará. A
tecnologia usada pelo grupo criminoso responsável pela fraude possibilitava que
o resultado chegasse a qualquer lugar do país e permitia ainda a comunicação
entre quem repassava as respostas e quem as recebia. O Fantástico revelou
detalhes da operação Embuste e como funcionava a fraude - veja o vídeo acima.
Antônio Diego mostra equipamento usado pela quadrilha (Foto: Divulgação/PF) |
Vinte e oito mandados foram expedidos pela
Justiça, quatro de prisão temporária. Até a publicação desta reportagem, havia
10 prisões confirmadas só na operação Embuste. No total, 11 pessoas foram
presas por suspeita de fraudes no Enem 2016, informou a Polícia Federal em
entrevista coletiva.
O delegado Marcelo Freitas explicou que, de um
hotel em Montes Claros (MG) a quadrilha enviava o gabarito para os candidatos,
que usavam um microponto colocado no ouvido e uma central telefônica acoplada
no peito ou braço. Ambos podem ser apontados com o uso de detector de metais,
mas a PF acredita que o equipamento não esteja sendo usado de maneira
eficiente.
Áudio e tosse
“Pela primeira vez constatamos o retorno de
áudio por parte do candidato. A maneira que ele usava para demonstrar ao
interlocutor que compreendia ou não o gabarito era por intermédio de tosse. Se
tossia uma vez ele havia compreendido, se tossia duas vezes, o interlocutor
repetia o gabarito”, disse Freitas.
Escutas autorizadas pela Justiça mostram que
antes do exame era feito um teste para verificar se o candidato conseguia
escutar a voz de quem iria repassar as respostas para ele. Durante o
cumprimento dos mandados foram apreendidos vários equipamentos usados na fraude.
Sobre as investigações
As investigações duraram 15 dias e demonstraram
que o foco do grupo era voltado para os candidatos que queriam entrar em
faculdades de Medicina públicas e particulares. Mas a organização demonstrava
interesse em atuar também em concursos públicos.
“Os lideres da organização, via de regra, são
estudantes de Medicina que conhecem pessoas habilitadas em todos os conteúdos
do Enem. Eles contratam essas pessoas, conhecidas como os pilotos, que realizam
a prova da disciplina que têm conhecimento. Passado algum tempo, eles saem
desses locais e levam até a base [hotel], onde os líderes repassam para as
demais pessoas beneficiárias do esquema”, explica Marcelo Freitas.
A PF apurou que um dos pilotos, além de
repassar o gabarito para os líderes da organização, ainda usou uma falsa
identidade e fez a prova no lugar de outro candidato.
Ainda de acordo com a PF, como as ordens das
questões das provas era diferente, quem passava o gabarito falava uma expressão
do enunciado e outra expressão que constava em uma das alternativas, assim o
candidato conseguia identificar a questão e resposta correta.
Um dos alvos das prisões já foi preso por
fraude do mesmo tipo. Segundo as investigações, ele foi expulso de uma
universidade estadual, onde cursava Medicina, prestou vestibular novamente e
conseguiu ingressar no curso.
“Não temos dúvidas de que o sistema é falho e
precisa ser aprimorado. O Ministério da Educação e o Inep se mostraram parceiros
da Polícia Federal na identificação das fraudes, o que se espera é que após
identificadas possam contribuir para que sistema possa ser aprimorado”.
Os envolvidos podem responder por crimes contra
a fé pública e o patrimônio, por exemplo, e as penas podem ultrapassar 20 anos.
O Ministério da Educação e o Inep, órgão
responsável pela aplicação do Enem, informaram que acompanham as operações da
PF, mas que elas não afetaram a realização das provas neste segundo dia do
exame.
"O MEC/Inep reitera que está acompanhando
com atenção os desdobramentos das operações da Polícia Federal hoje. No
entanto, as operações não afetam o Enem", informou.
Outra operação
A outra operação, batizada de Jogo Limpo, foi
realizada em sete estados: Maranhão, Piauí, Ceará, Paraíba, Tocantins, Amapá e
Pará. Também em nota, a PF informou que foram cumpridos 22 mandados de busca e
apreensão e que o objetivo foi "reprimir fraudes" ao Enem.
"A partir da análise de gabaritos
apresentados em anos anteriores promovida pela Policia Federal em conjunto com
o INEP, foram identificadas 22 pessoas que teriam apresentado respostas
suspeitas de fraude e que fariam a prova novamente em 2016", diz a nota.
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